Gloriosíssimo John Textor

Assim como o texto anterior, não sei se o senhor irá ler ou terá conhecimento deste novo texto. Mas ele também foi escrito exclusivamente para o senhor, mesmo em português.

Ao contrário do texto anterior, movido pela tristeza, críticas e mágoas (todas justificadas), este é levado pela mais pura alegria. A mesma alegria que hoje pulsa no coração e na alma dos torcedores do time que escolheu Garrincha, “a alegria do povo”, como seu maior ídolo e que agora, talvez, tenha escolhido você para ser seu grande líder e dirigente.

Hoje, como bom filho de mineiro, desconfio que o vexame de 2023 tenha mexido com você tanto quanto mexeu com os botafoguenses. Resta saber em que parte do seu ser aquele fracasso do ano passado bateu mais forte, se no ego ou no peito, mas, por enquanto, a desconfiança permanecerá.

O que sei é que, em 2024, você foi mais assertivo que em 2023. Investiu forte, como prometera, trazendo Luiz Henrique e Almada, além de repatriar Jeffinho, um jogador que nem deveria ter saído para o Lyon. Sei também que sua mudança de postura, provocada pelo ego ou pelo peito, contagiou a todos: dos mais simples funcionários do clube até as milhares de famílias alvinegras espalhadas por esse planeta redondo como a bola que jogamos este ano.

Textor, os números e, sobretudo, os resultados no futebol brasileiro têm nos mostrado que nem tudo se resume a dinheiro. E, como todo grande businessman, você aprendeu rápido essa lição, para o desespero dos nossos maiores adversários. O fato é que a SAF Botafogo se tornou um case de sucesso por várias razões, entre elas as contratações de Alessandro Brito e Arthur Jorge.

Depois da frustração de 2023, fiz uma promessa de não assistir a nenhum jogo do time neste ano. Quebrei essa promessa apenas quando um dos meus filhos me chamou para assistirmos juntos ao primeiro jogo contra o Palmeiras pelo Brasileirão. Naquele jogo, contra aquele adversário, vencido ironicamente com um gol do Tiquinho, logo após aquele pênalti perdido, percebi que o ano do vexame realmente tinha ficado para trás. A partir dessa partida, passei a torcer ainda mais e a acreditar que este ano seria diferente. E foi, de fato.

Mesmo assim, assisti supersticiosamente a todos os jogos seguintes longe dos estádios. A cada partida, fui percebendo que tínhamos um elenco competitivo e um treinador comprometido a não nos abandonar no meio do campeonato. Enfim, em 2024, tínhamos tudo o que nos faltou em 2023 para disputar as três competições (Libertadores, Copa do Brasil e Brasileirão), com chances reais de conquistar todas. E se não fosse o excesso de vontade de Gregore contra o Bahia, o mesmo apetite que o tirou aos 30 segundos contra o Galo em Buenos Aires, nós provavelmente teríamos conquistado a tríplice coroa.

Sinceramente, se tivéssemos conquistado apenas o Brasileirão, eu já me daria por satisfeito. Seria o pretexto perfeito para fazer as pazes com o time, com a nossa camisa e o nosso lindíssimo escudo. Mas conquistar o título nacional depois de 29 anos e, ainda por cima, a Libertadores depois de 65 anos foi algo extraordinário, quase divino. Essas duas conquistas não apenas nos devolveram os nossos dias e anos de glória, como também me fizeram lembrar do provérbio do apóstolo Lucas no Novo Testamento: “os humilhados serão exaltados”.

Ver Adryelson, Bastos, Danilo Barbosa, Eduardo, Gatito, Hugo, Jr Santos, Lucas Perry, Marçal, Marlon Freitas, Tchê Tchê e Tiquinho (jogadores remanescentes do vexame de 2023) perder um título “ganho” foi uma das coisas mais humilhantes que já presenciei no futebol. Mas, como dizem que “tem coisas que só acontecem com o Botafogo”, assistir um ano depois a esses mesmos atletas, junto com os que chegaram (Alan, Almada, Alex Telles, Barbosa, Gregore, Igor Jesus, John, Jeffinho, Luiz Henrique, Mateus Martins, Oscar Romero, Savarino e Vitinho), foi uma das experiências mais redentoras que o futebol já me proporcionou. Os vilões deram a volta por cima e se tornaram heróis, escrevendo definitivamente seus nomes na história do Botafogo Futebol e Regatas.

Daddy, por tudo isso, em meu nome, no dos meus três filhos, da minha nora, do meu compadre e, enfim, de toda a minha família botafoguense, agradeço a você por ser o grande responsável por essas conquistas e por devolver a nossa alegria. Se hoje “é tempo de Botafogo”, como profetizou Mateus Martins, é porque você também acreditou tanto quanto nós sempre acreditamos. Thank you, Mr Textor!

Ano passado (2023) morremos, mas este ano (2024) sobramos!

Atenciosamente

Gera de Paula

Rio de Janeiro, 9 de Dezembro de 2024


Um texto para Textor

Caríssimo John Textor

Eu realmente não sei se o senhor vai ler este texto ou se tomará conhecimento dele. Mas quer saber? A esta altura do campeonato Brasileiro 2023, a menos de 24 horas do jogo da 38ª e, graças a Deus, última rodada, isso é o que menos importa. O que realmente interessa para milhares de botafoguenses (4 ou 5 milhões), são outras coisas. Coisas que vou colocar aqui com a maior brevidade possível.

Pesquisando sobre John Textor no Google descobri que em 2016 o senhor foi definido pela revista Forbes como o “Guru da Realidade Virtual de Hollywood” por ter conquistado vários Oscar de efeitos especiais.

Essa informação curiosa me fez lembrar que um pouco antes do senhor comprar 90% do nosso futebol, a grande maioria de torcedores botafoguenses, eu inclusive, estava cruzando os dedos para os irmãos Moreira Salles serem os donos do pedaço.

No entanto, essa não era a intenção do brothers e o time da Estrela Solitária não seria dirigido nem por um cineasta (Waltinho), nem por um documentarista (João Moreira), mas por um guru de Hollywood, alguém também da indústria da comunicação e do entretenimento. Santa coincidência, né não Batman? Corta!

Mr Textor, sem alongar mais esse texto, o que nós botafoguenses buscamos hoje são respostas. Respostas pelo fracasso histórico do time neste Brasileiro e, principalmente, respostas que vão além desse fato que hoje tanto nos entristece e envergonha.

Portanto, como aqueles pais zelosos e prudentes de 1910 e em nome dos botafoguenses de 2023, mesmo que tardiamente, eu lhe pergunto: quais são mesmo as suas reais intenções com o nosso Botafogo? O que um empresário bem sucedido e milionário, de um país sem tradição no futebol, pretende com o futebol de um time com a nossa importância e representatividade?

Ficar ainda mais milionário do que já é? Ou transformar o Botafogo em uma marca, um tipo selo de qualidade, utilizando-o como um fornecedor qualificado de jovens talentos, como Jeffinho e Perry, a fim de fortalecer o seu Lyon, o seu Crystal Palace ou qualquer outro clube disposto a investir mais?

Se o senhor está sem graça de responder com objetividade e transparência as perguntas sobre essa campanha Mr Hyde e Dr Jekyll do Botafogo neste Brasileiro, não tem problema. Elas já estão disponíveis nas plataformas de inteligência regenerativa como o Chat GPT e afins.

Respostas como nunca na história dos campeonatos nacionais de futebol pelo mundo um time foi campeão com 5 treinadores diferentes na mesma competição. Respostas como essas os algoritmos podem nos dar.

O que realmente interessa para nós botafoguenses e para a nossa inteligência natural degenerativa são respostas sobre as suas intenções e os seus planos para o futuro do nosso Botafogo.

Respostas como a venda integral do passe de Jeffinho, um atacante de 23 anos, para o seu Lyon por 10 milhões de euros e a compra parcial (50%) dos direitos econômicos do Patrick de Paula, um meio campista de 22 anos, por 6 milhões de euros.

Sinceramente, eu não sei quais foram as razões que levaram um ex skatista como o senhor, que ficou milionário com jogos por streaming, efeitos espaciais e hologramas do Tupac, adquirir em curtíssimo período as ações de não 1 apenas, mas de 4 times de futebol, de 4 países com culturas diferentes da sua e de seu país. Mas por ser um pouco curioso desde já estou na fila para saber. Haja visionarismo, né não Galvão?

Mr Textor, eu desconfio que o Botafogo seja apenas mais um ativo para o senhor. Ok, no problem. Todos nós sabemos que não existe almoço grátis. Só não se esqueça que esse “negócio” chamado Botafogo tem outros “acionistas” tão “majoritários” quanto o senhor. E é para eles (e também para mim) que o senhor deve explicações objetivas e transparentes

Então, como grande Guru da Realidade Virtual de Hollywood, não ignore, nem despreze os sentimentos e questionamentos dos seus “sócios” porque é impossível encher o Nilton Santos com avatares e robots.

Neste planeta em forma de bola, a gente quer ser feliz nas arquibancadas, nas casas e nos bares da vida real. E não nos ambientes dos metaversos e universos virtuais. Can you understand me, Mr Textor?

Atenciosamente

Gera de Paula

Rio de Janeiro, 5 de Dezembro de 2023